O PARQUE DE SERRALVES, NO ESTILO LITERÁRIO DE JANE AUSTEN*

O Efémero e o Eterno nos Jardins de Serralves


Aconteceu numa tarde amena de um dia primaveril, nos magníficos jardins do Parque de Serralves, na sempre inspiradora e acolhedora cidade invicta. O Sr. Eduardo Vila Nova, cavalheiro de nobres maneiras e ilustre arquiteto, encontrou-se casualmente com a Srta. Isabela Noronha, uma jovem elegante e educada, de língua afiada e olhar perspicaz, que se atrevera numa profissão que era, acima de tudo, uma paixão – e uma tremenda ousadia, numa sociedade e num mundo impreparados para mulheres como ela. Isabela era escritora.

O encontro entre eles foi um mero acaso. Eduardo, um conhecido e renomado arquiteto, deslocara-se ali para discutir um potencial projeto de construção no vasto terreno da Fundação de Serralves. Isabela, conhecida pelas suas opiniões arrojadas e pela sua literatura provocadora, buscava ali inspiração para uma das suas obras em curso.

Foi no Roseiral que os seus olhares se cruzaram de forma quase teatral. Isabela observou Eduardo com um misto de curiosidade e ceticismo, enquanto ele, com um sorriso confiante, fez uma inclinação ligeira, em jeito de cumprimento. "Sr. Vila Nova, suponho?", disse Isabela com um arquear de sobrancelha que mal escondeu um tom irónico.

Eduardo respondeu com um sorriso enigmático. "A própria Srta. Noronha! Muito ouvi falar de sua reputação, por aqui."

"Reputação? Ah, sim, como a mulher que ousa questionar as tradições e os padrões da sociedade?", retorquiu Isabela, com um toque de desafio.

"Uma reputação intrigante, sem dúvida", devolveu Eduardo, os seus olhos já a cintilar com algo entre surpresa e sarcasmo. “Uma mulher à frente do seu tempo – ouve-se dizer, frequentemente, acerca da sua pessoa.”

Já se começavam a antever descargas mordazes a voarem como fagulhas, num diálogo que se adivinhava empolgante. Isabela Noronha cruzou os braços e observou Eduardo Vila Nova com um olhar de provocação. "É interessante, Sr. Vila Nova, como a arquitetura frequentemente reflete os ideais sociais de uma época. Poder-se-ia dizer que seus projetos espelham a rigidez da estrutura hierárquica da sociedade, e da forma como a vê, naturalmente?"

Eduardo inclinou a cabeça, e não se prestou a esforços para tentar dissimular um sorriso irónico. "E suponho que, como uma autora talentosa, a Srta. Noronha acredita que as palavras podem derrubar muros, como se de martelos demolidores se tratassem, a derrubar as paredes de um edifício."

Isabela sorriu com malícia. "Oh, meu caro Sr. Vila Nova, as palavras têm o poder de desafiar a ordem estabelecida e inspirar mudanças mais profundas do que qualquer estrutura de tijolos e argamassa."

"Eu não nego o poder das palavras, Srta. Noronha. No entanto, a meus olhos, um edifício bem projetado é uma expressão tangível da harmonia e do equilíbrio que podem ser alcançados na sociedade", ripostou Eduardo, na sua postura indiferentemente altiva.

Isabela não pôde deixar de rir, desta vez abertamente e já a deixar perceber um certo fascínio nos seu olhar. "Ah, Sr. Vila Nova, acredito que a nossa conversa dava um romance por si só. Uma batalha de conceitos, a arquitetura versus a literatura."

"Uma dança intelectual, por assim dizer", concordou Eduardo, os seus lábios curvando-se num sorriso.

"Mas permita-me lembrá-lo, Sr. Vila Nova, que se é verdade que as suas construções podem durar séculos, as palavras, essas, são eternas. Um livro pode transcender gerações, desafiando ideais antiquados e ressoando com as aspirações de eras futuras", argumentou Isabela, com a sua voz carregada de convicção.

Eduardo observou-a com admiração genuína. "Não posso negar a paixão que coloca nas suas palavras, Srta. Noronha. Os seus livros têm o poder de desafiar as minhas próprias perspetivas, e talvez até de inspirar um novo olhar sobre a arquitetura."

O sorriso nos lábios de Isabela suavizou-se, num gesto de reconhecimento mútuo. "E talvez possamos chegar a um entendimento, Sr. Vila Nova. Afinal, tanto a arquitetura quanto a literatura buscam transcender o comum, provocar pensamentos e emoções que nos façam questionar o mundo à nossa volta."

Entre comentários incisivos, houve ali uma espécie de dança complexa de palavras. Contudo, por trás da troca de palavras afiadas, desenhou-se entre eles uma intenção de compreensão mútua, uma vontade de entendimento, quem sabe até, uma possibilidade de encontro.

Enquanto a tarde cedia lugar à noite, os tons dourados do pôr do sol encheram os jardins de uma luz mágica. E no meio daquele cenário de rara beleza, os sorrisos irónicos cederam espaço a olhares mais suaves, a gestos mais sinceros. Uma flor foi colhida e oferecida (não se pode fazê-lo, é certo, mas como se contém o impulso acordado pela promessa de um romance iminente?). Enfim, um gesto simples que pareceu conter mais significado do que quaisquer palavras poderiam expressar.

Naquele instante, entre as flores e a luz do crepúsculo, já perto dos Jardins do Relógio de Sol, algo no tempo mudou. A barreira entre dois mundos aparentemente distantes estreitou-se e uma semente germinou. As palavras e as estruturas, as ideias e os desafios entrelaçaram-se numa conexão inesperada.

Isabela e Eduardo haverão de aqui voltar, já não apenas com as ideias, mas também com as mãos entrelaçadas, para beberem um Porto na Casa de Chá, para ouvirem juntos um concerto de Jazz no Parque, ou até quem sabe, para passearem, nas alturas, ao nível das copas das árvores, nos passadiços de madeira que oferecem novas perspetivas dos lugares de sempre.

No jogo entre o efémero e o eterno, nos Jardins de Serralves, onde a arte dialoga em permanência com a natureza e a surpreende a cada passo, as diferenças deram lugar a afinidades que transcenderam o tempo e o espaço. Ali, sob a generosa sombra das árvores frondosas, Isabela e Eduardo encontraram um ponto de união entre a arquitetura das palavras e a estrutura do coração. E juntos, construíram algo e escreveram uma história que tempo algum viria a apagar.


*Numa combinação entre Inteligência Artificial e competências humanas, este texto visa recriar o estilo literário de Jane Austen, entre o Romantismo e o Realismo, explorando a dinâmica social e romântica da época através das personagens e do cenário encantador dos Jardins de Serralves.

** Fotografia por Rui Alves.